segunda-feira, 28 de julho de 2008

Música sem preconceitos


Tenho passado por uma pequena fase de bloqueio criativo. Digo pequena porque espero que passe logo, pois apesar de ter vários textos não publicados, gostaria de algo novo neste espaço. A "tentativa" de crítica a seguir custou a ser escrita, portanto não esperem muito dela. Aproveito para registrar os meus sinceros agradecimentos aos leitores deste blog, são vocês que me impulsionam a continuar.

“Aqui estou na difícil missão de levar a você uma mensagem que possa ser como uma luz ou um mantra, nós não somos mais crianças. Um dia acontece, a gente tem que crescer, temos que encarar a ‘responsa’. Eu não deixei de achar graça nas coisas, simplesmente hoje eu quero ser levado a sério; as coisas mudam sempre, mas a vida não é só como eu espero.”


Por volta de quatro horas da tarde de terça-feira toca o celular, ainda no trabalho, eu, sem reconhecer o número no visor, atendo um tantinho intrigada.
- Alô.
- Marinha, sou eu, a Ná.
- Ah... oi Ná, tudo bem?
- Tudo. Marinha, será que você conseguiria sair mais cedo do trabalho amanhã?

*

Já passava das nove da noite, em plena quarta-feira. E a platéia, ansiosa devido às mais de duas horas de espera, entoava, em coro, seu apelo impaciente:

- Charlie Brown, Charlie Brown, Charlie Brown…

As luzes do palco, que já haviam sido apagadas há algum tempo, não eram índice de que o show fosse, finalmente, começar.
De súbito, ouve-se uma voz que, reconhecida imediatamente, causa ainda mais frisson:

- Que pressa é essa?

O show era resultado da promoção de uma famosa rádio de São Paulo. Duzentos felizardos aniversariantes e seus dois convidados iriam curtir Charlie Brown Jr., num evento exclusivo.
Confesso que, como grande parte das pessoas, tinha certo preconceito com relação à banda, mas é claro que eu não poderia recusar um convite desses. Primeiro, porque vinha da Ná, uma grande amiga, segundo, porque eu sabia que seria uma experiência legal, afinal não é todo dia que temos a oportunidade de ir a um show exclusivo e com tudo “na faixa”.
O surpreendente foi que eu gostei muito mais do que pensei que gostaria, e digo mais, a espera valeu a pena. Calma, explico.
A dois metros do palco não há quem não se emocione. Ponho minha mão no fogo como, até o mais devoto dos amigos cult que tenho, balançaria com a emoção de estar ali. E acredito que o principal motivo seja a sinceridade que os caras espiram. É nítida a crença que eles têm em seu próprio trabalho, e não poderia ser diferente, digo o porquê.
Havia ali, em torno de quatrocentos jovens que cresceram ouvindo suas músicas, que sabiam todas as letras de cor e que vibravam com a energia positiva em torno deles.
A questão aqui é bastante delicada, estamos falando de um público jovem, uma galera que curte um som que tenha a sua cara e o rock é o estilo musical que tem embalado jovens, de vários cantos do mundo, há mais de meio século.
Temos que encarar a ‘responsa’. Perceba como esta letra é verdadeira, de fato, as bandas de rock carregam a enorme responsabilidade de compor o cenário conturbado da adolescência e, além de falar aos jovens, devem ter a consciência de que é nessa fase que firmamos nosso caráter. E a música, sendo uma das ferramentas de expressão mais acessíveis à grande massa e elemento fundamental à vida das pessoas, participa, enquanto forma de arte, na formação da visão de mundo do público que a prestigia. Está aí a responsabilidade das bandas jovens.
E, a meu ver, Charlie Brown é exemplo. É claro que ninguém é obrigado a concordar, também sabemos que todo artista comete lá os seus deslizes. Mas o rock do Charlie Brown está explicitamente mais maduro e a maioria de suas letras pregam o amor. Ora, achando clichê ou não, qual é a outra solução que se vê em tempos difíceis como os nossos, senão o amor?
As músicas têm acompanhado a evolução da banda, ainda que a maioria dos fãs prefira “as antigas”, o que se percebe é que a batida rebelde com letra provocadora tem dado lugar à sons mais melodiosos e à letras com mensagens de paz. É fácil notar tal maturidade através da comparação de dois grandes hits, a idealista “Lugar ao sol”, de 2001 e a atual música de trabalho “Uma criança com o seu olhar”.

“Que bom viver, como é bom sonhar
E o que ficou pra trás passou e eu não me importei
Foi até melhor, tive que pensar em algo novo que fizesse sentido
Ainda vejo o mundo com os olhos de criança
Que só quer brincar e não tanta responsa
Mas a vida cobra sério e realmente não dá pra fugir
Livre pra poder sorrir, sim
Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol”

“(...) nós não somos mais crianças
Um dia acontece, a gente tem que crescer
Temos que encarar a responsa
Eu não deixei de achar graça nas coisas
Simplesmente hoje eu quero ser levado a sério
As coisas mudam sempre, mas a vida não é só como eu espero
Existe um dom natural que todos temos
Nossas escolhas vão dizer pra onde iremos(...)
Armadilhas do tempo são como o vento
Levando as folhas para lugares distantes,
O meu pensamento é o mesmo que o seu
Mas hoje meu coração bate mais forte que antes”

Se repararmos bem, as duas músicas têm muito em comum, inclusive pelo som, tanto Lugar ao sol, quanto Uma criança com o seu olhar, são as mais melodiosas de seus respectivos álbuns. A proposta também é a mesma, porém na segunda, a luta pelos objetivos foi encarada de forma mais “pé no chão”, sem deixar de lado a identidade da banda, enquanto banda jovem.
O ardil de Chorão e companhia consiste em pregar o amor como a força que nos leva a lutar pelos sonhos, o amor pelo que se é, pelo que se faz, o amor pelas raízes e pelo esporte. O fato deles viverem isto é o que torna ainda mais fascinante e verdadeira a trajetória do grupo até aqui.
Nunca vou me esquecer do que vi e senti naquela noite. De certa forma, posso dizer que eu mudei.
Abro minha mente para novas possibilidades e me abstenho de preconceitos. Curtindo o som ou não, sendo culturalmente enriquecedor ou não, sendo som para maloqueiro ou não, seja qual for a sua opinião (acredite, ela provavelmente seja bem parecida com a que eu tinha antes), é necessário que se observe.
Música é questão de gosto, assim como qualquer arte, e, sendo questão de gosto, não agradará à gregos e troianos, por isso temos tantos críticos de arte por aí. E antes que você diga: “Mas este rock do asfalto, totalmente sem conteúdo, não é arte”, pare e pense sobre o que você anda ouvindo ultimamente, será que é verdadeiro, ou você está apenas enriquecendo ainda mais a indústria fonográfica? Ou ainda, você, provavelmente, diga: “Boa música é MPB. É Tom, Elis é Chico Buarque...”.
Ok. Concordo, e em hipótese alguma desmereço. Mas é extremamente necessário que se tenha consciência de que a música POP está aí e é tão brasileira quanto a MPB, e, muito provavelmente, mais ouvida. E se traz verdade, se tem identidade, fé no que se faz e no que se tem a dizer, então, merece nosso crédito. Ou, no mínimo, respeito.
Quanto ao que eu aprendi, os estilos populares também podem ser libertadores:

O que vale nessa vida é o que se vive é o que se faz
Mas o que pode se esperar de uma pessoa que não pode
sonhar?
Como ele pode ter o que dele está tão longe?
Na vitrine coisas que ele nunca vai poder ter
Se ninguém o ajudar o que ele vai fazer?
Onde vai morar e o que vai ser quando crescer?
Quando vem da rua,
que é sua, que é minha, que é de ninguém
É tudo uma ilusão e você sabe muito bem
Impunidade, hipocrisia, dançam de mãos dadas
O hino nacional de uma nação condenada
A sociedade prega o bem
Mas o sistema só alimenta o que é mal
Se a nossa cara é prosperar,
o povo tem que evoluir também
Quase de manhã, mais uma noite no vazio
me auto-desafio, lá fora o mundo louco
sem perdão nem compaixão
A combustão em rota de colisão
A sinfonia da destruição
Vivendo o sonho e também o pesadelo
Vendo o mundo regredindo entre a fé e o dinheiro
Saudades do meu pai e dos amigos que morreram
Mas o que o velho me ensinou eu jamais me esqueço
Seja lá como for, na vida tudo tem seu preço
No mundo, o falso e o verdadeiro se confundem
Mas os que sabem jamais se iludem
Não é fácil encontrar o caminho
Mas é bom olhar pro lado e ver que não estou sozinho...
Todo o mal que é dirigido a nós
Nos fortalece e eu não vou desistir
(O que vale nessa vida é o que se vive é o que se faz)
Nas armadilhas que eu cai
Eu fiquei só e ninguém viu
(O que vale nessa vida é o que se vive é o que se faz)
O que pode se esperar de um ser humano perdido?
Que ele viva como se nunca fosse morrer?
Ou que ele morra como se nunca tivesse vivido?
O que pode se esperar de uma pessoa que não pode
sonhar?

I wanna think about tomorrow
'Cause tomorrow I want to be with you
Don't wanna live in quite sorrow
But that's the way the world will follow
It's all in my mind
Just wanna be myself for sometimes
Just wanna be myself

Acostumado desde cedo com a desgraça
em temporada de caça, um subnutrido
vítima da farsa, se formou na escola do crime
hoje o oprimido é quem oprimi
Uma alma carregada de ódio e amor
Mas muito mais ódio que amor
O aluno é também o professor
que ensina qualquer um que não sabe dar valor
à vida que tem ou à casa que mora
que vive sorrindo enquanto ele chora
Só mais um de milhares que se espalham
vítima dos nossos governantes que falharam
Todo o mal que é dirigido a nós
Nos fortalece e eu não vou desistir
(O que vale nessa vida é o que se vive é o que se faz)
Nas armadilhas que eu cai
Eu fiquei só e ninguém viu
(O que vale nessa vida é o que se vive é o que se faz)

I just wanna be myself...
Yeah! Yeah! Play your position
'Cause the world does the man
Little kids visions
May my sins be forgiven
Gotta have faith so
You can do what you wanna do
Gotta be this way So don't fool
'Cause the world is Cruel
Live by the sword, then you die by the sword
When I'm asking for peace in the middle of a war
Between blacks and whites, between rich and poor
So we can stop the mess overseas and all

Trabalho muito, vivo a vida, skateboard estilo de vida
um brilho intenso e a humildade de uma mente evoluída.

(Be Myself, Chorão e Thiago Castanho)






11 comentários:

Fernando disse...

Já tive muitas chances de ver um show deles, mas nunca rolou. Conheco de perto a admiração por eles gerada e o exemplo positivo que passam nas letras.
Só por isso, ja vale o respeito de qq um.
Qnto à energia, aposto q deve ter sido única.

beijos

Naiade Pinheiro disse...

Aii Marinhaa
Precisamos de mais um ventilador de felicidade e emoção desses!
O melhor aniversário da minha vida e com as minhas melhores amigas, não tem preço!

Amo vc, Marinha!

putsputsputs CHARLIE putsputsputs BROWN! [Chorão fazendo o beatbox dele]

Eu digo Charlie e vcs dizem Brown... CHARLIEE!

;*

Heloisa Emy disse...

oi querida!!!
música antes da melodia e afins, era poesia. e para se escrever uma, é preciso ter certa sensibilidade, grandeza, inteligência, e por aí vai! então, gostando ou não de quem canta, é válido e grandioso só por escrever! e mais ainda por passar através dela uma mensagem aos jovens de várias gerações... ele é um músico sem sombras de dúvidas!
não duvido da emoção que sentiu! inexplicável, com certeza =]

bloqueio criativo, de novo? ah, não vale, eu também estou! só que você consegue escrever... bom, na verdade, eu nem estou me arriscando a escrever! estou dando um tempo de mim ou para mim, vai saber!

beijo. ^^

p.s.¹: nunca para de escrever!! você escreve muito bem =]

p.s.²: tenho novidades!

adoro!!!

Ana disse...

Acredito que várias pessoas reunidas em um lugar pelo mesmo motivo, ainda que não pela mesma razão, já é algo que arrepia, literalmente falando.
Já fui no show do Charlie Brown, não por ser fã, mas por gostar de algumas músicas que estavam fazendo sucesso na época. E senti algo parecido com o que você descreveu.
A música torna os sentimentos universais, e isso, não há preconceito que evite.

Naiade Pinheiro disse...

Mariiiiiiinhaa!
Entããão...acabamos não indo no cinema, acreditaa?
Tava passando batman na hora que podíamos ir, mas não estávamos com muita vontade de assistir, então fomos comer no mc...shauishaiushauhs
ceeeert!

Marinhaa...vamos pra Ribeirão no sábado?
beeeijos

Ana disse...

(resposta)
Olha, dificil indicar filmes, porque eu tenho um gosto bem eclético, apesar de ficar sempre entre comédias bobas e romances "água com açúcar"..mas os meus preferidos são:
"Como se fosse a primeira vez",
"Diários de uma paixão",
"O amor não tira férias",
"Brilho eterno de uma mente sem lembranças",
"O tempo não pára"(nacional),
"E se fosse verdade",
"Efeito borboleta" e
"A dona da história"(nacional)

Tem mais um monte...hehehe, mas esses são os do coração.

O modem chegou sim...vou contar como foi num próximo post.

Bjs.

Ana disse...

Muito obrigada pelos elogios! Fico muito feliz que tenha gostado e pode deixar, vou pensar numa continuação...

Que bom que gostou do filme, é bem comédia romântica mas sensacional. Adoro quando o cineasta é homenageado, não paro de chorar...

Bjs

Naiade Pinheiro disse...

eeeh Marinhaa
ve direitinhooo
e a gente se fala amanha
(ps: meu teclado ta sem acentos...nao repara)

beeeeeeeijoos

Ana disse...

O bom de escrever o que sente é que é possível dar o rumo que quiser. E fica uma mistura de sonho com realidade.

Heloisa Emy disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Heloisa Emy disse...

I wrote! I wrote!! rsrs...
I didn't like very much, but is always good write, don't you think?
Vai lá dar uma olhadinha ta?!

ah, borbeltas!!!

beijo. ^^

(11 comentarios heim? ta certo que um deles, que é meu, foi excluído, mas blz!!)