sexta-feira, 30 de maio de 2008

Na Gaveta da Memória




Aos amigos queridos dos quais sempre sentirei saudade


Mas... você nunca vai perder o seu lugar em mim, ainda que queira abrir mão dele.
Sabe que tudo o que temos na vida são nossas lembranças. Nós somos feitos de lembranças, tudo o que somos, toda a bagagem adquirida e tudo que aprendemos na vida fica guardado na gaveta da memória.
Não pretendo ser repetitiva ao dizer que as pessoas são insubstituíveis, mas sou levada a fazê-lo, pois elas verdadeiramente o são. Ninguém, absolutamente ninguém, é igual ao outro, e é este o grande barato da vida! E ainda tem gente que não enxerga. E pior, que não respeita. Não entro nestes méritos, o assunto aqui é outro. Estava falando de nós. Você e eu.
Pessoas como você, vêm e vão em nossas vidas, mas quando vão, não vão por inteiro, sempre deixam parcelas de si sorvidas em nós. Somos um grande aglomerado da vivência do mundo! E especialmente de pessoas que significaram mais um passo rumo a este “algo mais” do qual estamos constantemente em busca.
Repito, a despeito de qualquer outra questão humana, isto é tudo o que temos para sobreviver. Estes retalhos. Estas bolsas repletas de recortes desordenados dos quais nos apropriamos para tecer nossa própria colcha pessoal.
Daí a importância de falarmos em nós. Você nunca deixará de ser parte do que sou, mesmo não estando aqui agora. É que quero que tome consciência desta marca ao mesmo tempo tão sutil e significativa que tatuou em mim.
É por isso também que se deve dizer o que se sente e deixar sempre quem amamos ciente deste sentimento, não só com palavras, mas com atitudes, pois é assim que seremos lembrados. Tudo fica guardado na minha gaveta. E na sua também.
Tudo está definitivamente escrito na jornada do tempo, os momentos que passamos juntos (os bons e os ruins também), ninguém poderá apagá-los e nada, absolutamente nada, pode mudá-los.


terça-feira, 20 de maio de 2008

Serespaperconfi

Maria, Maria. Sempre Maria! Ela era uma garota não muito bem sucedida no amor. Qualquer semelhança com a realidade... (o conto segue nos próximos três posts)



Maria nunca foi muito bem sucedida no amor.
Tanto que um dia chegou a acreditar que estava destinada a ficar para titia.
E ficou, já foi tia antes mesmo de ter idade para namorar.
O primeiro amor de Maria fez xixi na calça no meio da aula. Depois disso a garota desencantou, mesmo a culpa sendo da professora que não o deixou ir ao banheiro.
***
O segundo era um menino lindo, de olhos verdes. Bruno. Acho que ele era meio preconceituoso.
Maria era morena, sabe? Morena-jambo. Ela sempre acreditou que estes eufemismos mascaravam certo racismo.
O Bruno também não serviu.
***
Depois veio o André. Ele não era bonito, não era bom aluno e quase sempre ia para a diretoria por mau comportamento.
Acho que era por isso que ela gostava tanto dele.
***
O Sérgio era popular na escola e ela nunca se esqueceu de seu rosto. Nos intervalos das aulas, suas amigas ameaçam contar a ele sobre sua paixão. Maria nunca tomava seu lanche no recreio, ela costumava passar o tempo todo escondida no banheiro.
***
O Thiago era um grande amigo. Eles viviam conversando. Ele tinha as bochechas mais rosadas que Maria já havia visto. Foi a primeira vez que a garota sentiu o coração bater forte só de olhar para uma pessoa. Ela estava com medo de que estas palpitações que vinha sentindo fossem doença e, percebendo que elas surgiam sempre ligadas à imagem de Thiago, decidiu romper a amizade.
***
Foi assim que passou a reparar no José Carlos, mas ele era filho de professora, não se interessaria por ela. O José Carlos, além de muito inteligente, gostava da Monise que, aliás, era a melhor amiga da Maria.
***
O Diego era da sexta série, ela da quinta.
O mais gostoso em gostar do Diego é que a garota podia dividir este sentimento com a sua meia-irmã, Sandra. A Sandra também estava na quinta série e gostava do Juan, que era da sexta.
As duas passavam o tempo todo falando sobre seus amores impossíveis.
Sandra escrevia poemas, mas nunca os entregava.
Maria desfilava nos intervalos esperando um único olhar de Diego.
Um dia Sandra decidiu entregar os poemas.
Sandra e Juan ficaram juntos.
Maria continuou desfilando para Diego.

Miltinho era do bairro, ele não parecia ser “boa coisa” - era o que a mãe de Maria costumava dizer. Ele era moreno e atlético e sempre “mexia” com ela quando passava.
Ele gosta de mim! – a garota pensava.
Ela sabia onde encontrá-lo e quando o via, ficava feliz.
Apesar disso, ela não o procurava, e o máximo que fizeram foi trocar olhares pelas ruas do bairro. Depois de algum tempo, ela não mais o viu.
***
Maria não era precoce como as outras garotas do colégio e por isso na sétima série era considerada aberração por nunca ter beijado ninguém.
A sétima série foi difícil em vários aspectos para ela. Entre eles, talvez esteja sua paixão pelo Nilson, a quem, carinhosamente, chamava de Nilsinho. O Nilsinho era do segundo ano e vivia rastejando – como ela costumava dizer- atrás de uma loira que não ligava para ele, que por sua vez, não ligava para Maria.
O mais insuportável nesta história, além da paixão não correspondida, era ter que agüentar o chato do irmão do Nilson, que vivia dizendo à garota: “Até parece que o meu irmão vai se interessar por uma garota como você, não vê que você é feia?”.
Maria fingia que não se importava e seguia em frente.
Ela nunca esqueceu o Nilson.
***
Foi quando surgiu o Bruno. Outro Bruno.
(Brunos e Andrés é o que não falta mundo, eu, particularmente, conheci vários.).
Ela se interessou por ele logo no primeiro dia de aula. Ele estava sempre junto com a Beatriz, Maria chegou a acreditar que eles eram namorados. Tão logo os quatro se tornaram amigos (Bruno, Beatriz, Maria e Carol, amiga antiga de Maria), como deveria ser. Não demorou para a garota descobrir que Bruno e Beatriz não namoravam e menos ainda para que os dois (Bruno e Maria) se tornassem amigos íntimos.
Um dia ela decidiu contar a ele sobre o que sentia. E antes mesmo de darem o primeiro beijo, já estavam namorando.
O namoro durou quatro dias.
Depois de algum tempo, Maria ficou sabendo que Bruno era gay.
No cursinho preparatório para a escola técnica, Maria “conheceu” o Murilo. Conheceu assim mesmo entre aspas, porque ela nunca o conheceu de verdade. Mas também nunca sentiu algo que se assemelhasse tanto ao que julgava ser amor, quanto sentia por ele.
Foi apenas um mês e ela nunca falou sobre isso, exceto com as meninas com quem costumava conversar.
Depois que o curso acabou, Maria julgou que nunca mais o veria, mas, para sua surpresa, o encontrou algumas vezes no ônibus. Maria sentiu vontade de falar, mas não falou.
***
Era tudo tão novo para ela - um mundo paralelo - esta nova escola.
Havia, na garota, certa “urgência”, nova escola sempre traz novos amores e dessa vez ela tinha certeza de que daria tudo certo. O príncipe viria, num cavalo branco, finalmente.
Uma das pessoas da nova turma com a qual Maria mais conversava era Cláudio. Ele dizia que em menos de seis meses ela estaria com um cara legal. Não demorou para que a garota se apaixonasse por ele. A Paty também gostava do Cláudio, elas conversaram e Maria resolveu que seria melhor contar ao garoto.
Foi difícil como nunca falar sobre seus sentimentos.
Depois de ouvir, Cláudio passou a ignorar a garota.
Com o tempo, eles se tornaram grandes amigos. E ela já não sabia mais o que realmente sentiu um dia.
***
O nome “Renato” remetia Maria a coisas boas. Lembrava música boa, seu compositor favorito.
Mas este Renato não era o que se podia chamar de "cara legal".
Era bonito. E só.
Bem que sua amiga, que era da turma dele, tentou ajudar. Mas acabou atrapalhando.
Eu faço este favor a ela – disse ele.
Maria sentiu vontade de cuspir na cara dele.
***
Dos amores da garota, Júlio, sem dúvida, foi o mais intrigante.
Havia mistério em seus olhos... sombra. Ele, certamente, era diferente da maioria das pessoas com quem Maria estava acostumada a se relacionar. Ela precisava explicar o que de tão inexplicável exprimia-se através daquele olhar, sempre tão dúbio, acintoso.
Era manhã e o sol refletia em seus cabelos claros e uma luz particularmente especial minava de seus olhos cor-de-mel. Foi então que Maria soube que precisava descobri-lo. Mas descobriu demais...
Ele era absolutamente igual aos outros.
Esqueceu. Não, não esqueceu, tentou sufocá-lo em beijos apaixonados...
Maurício surgiu como o príncipe que Maria imaginava. Prometeu-lhe amor eterno. E por isso ela acreditava que gostava dele.
Na verdade acho que ela gostava é de saber que ele estava ali. Ou gostava mesmo dele?
O fato é que acabou. E não poderia haver motivo mais banal.
Mas que banalidade é esta que destrói um amor eterno?
Não está mais me fazendo bem estar com você, é melhor terminarmos. – ela.
Também acho. E é melhor pararmos por aqui se quer que ainda reste amizade. – ele.
Uma semana depois, ele estava "se pegando" no granado da escola com uma ruiva pedante.
***
O Daniel surgiu assim como desapareceu, do nada.
Ele dizia que não queria compromisso, que já tinha se decepcionado muito e por isso nunca mais iria envolver-se com alguém.
Maria jurou que também não se envolveria, não dessa vez.
O Daniel sumiu, mas, alguns meses depois, a garota soube que ele estava namorando sério.
***
Muito tempo passou. Maria estava mudada, não era mais uma menininha, via o mundo com outros olhos.
Mas em sua bagagem estava toda esta história, um trauma, talvez. Mas não, ela não gostava de pensar assim.
Certa vez ouviu de sua tia que as mulheres da família estavam condenadas a uma maldição: ficar sozinhas. Fazia sentido. Avó e tias viúvas, mãe divorciada, primas solteironas.
Parecia que a garota trazia em si uma marca, como tatuagem.
É o que dizem: Azar no amor, sorte no jogo.
Não tardaria para que Maria enriquecesse.
Certamente, em breve, ganharia na loteria.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Mais uma pensando no Chuchu


O Texto abaixo trata-se de uma "Pequena Mentira"


Nunca em minha vida escrevi com tanta freqüência. Algo, certamente, não está igual.
Por que tanta inspiração de uma hora para outra? Embora saiba o que é (não sei se sei), prefiro não enxergar, já não é fácil assim, não quero tornar piores as circunstâncias.
Por que olhar para ele me revira o estômago e faz o coração parar nas costas?
(Eu existo e ajo como se não existisse.)
De repente um soco no peito, falta o ar... Ai, dói! Não queria que doesse tanto!
Vou parar de olhar, cutucar, remexer...
Não quero mais encontrar-me com suas lembranças. Não me interessa a sua vida, formação, família, rompimentos, traumas.
Não me interessa suas articulações, suas críticas, nem seu sentimento fetal.
Suas resignações, comparações, visões... não me interessa seus olhares!
(Ontem ele não olhou para mim.)
Já não posso mais, começa a me faltar também a fome.
Já decidi, parei.
Não cutuco, não remexo, não olho,
nunca mais
.
Não invado. Não está certo. Limito-me a ser
apenas o que sou
e nada mais.
Queria verdadeiramente que fosse assim, mas não é.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Parece que tudo que temos são retalhos do passado.



terça-feira, 13 de maio de 2008

Permita-me um instante de êxtase

à alguém que (sem saber) tem me ensinado muito

Será que posso ter o meu momento agora,
Meu instante etéreo de arrebatamento?
Eu preciso beber desta fonte,
As águas que escorrem pelo teu punho.
Cada sílaba, cada ponto e vírgula
(ele não deixa de pingar os is).
E eu amo cada palavra que vem dele.
Me deixa?
É meu instante poético do qual eu não abro mão.
É bonito e toca fundo como nada jamais me tocou
Nem os versos de Drummond,
Nem a prosa de Clarice.
Ele não é poeta, talvez nem seja escritor.
Ele não possui a escrita,
É a escrita que o possui
(E por meio dela, ele possui a mim).
E é tão intimista, tão reflexivo,
Tão purista.
É meigo.
É um tapa na cara.
É tudo junto.
É tudo ao mesmo tempo.
Já passou.
É agora
(Tão bonito que dói).
E me pego sonhando de novo...
É o pássaro branco que chega afrouxando as amarras de minha alma
É o coração que pode bater com a intensidade que bem entender.
Assim, percebo a importância das relações.
Foi o Tom quem disse
“É impossível ser feliz sozinho”.
Ser feliz (é possível?)...
São raros estes encontros realmente verdadeiros
em nossas vidas.
Ironia.
Os desencontros são tão comuns!
Mas tudo é sempre muito relativo, não é mesmo?
E ele ainda diz que não quer confete.
Respondo: À ti nada mais tenho a oferecer, senão aplausos.