"Cada vez menos aparecem filmes que satisfazem num grau tão poderoso como este, então é preciso valorizá-los cada vez mais. “O Curioso Caso de Benjamin Button” estréia na temporada de prêmios e promete levar vários; merecidamente." - Ricardo Prado, crítico de cinema.
“Inacreditavelmente completo” é uma boa forma de definir O curioso caso de Benjamin Button (EUA, 2008), mas ainda assim, não é a ideal. Trata-se de um filme tão bem lapidado que seria injusto tentar enquadrá-lo numa única definição.
O que muitos podem considerar um deslize que impede a perfeição do roteiro é a duração de quase três horas de filme, o que de fato o torna um tanto cansativo, porém, a meu ver, esta pode ser considerada uma ferramenta da própria história, como uma parte do enredo capaz de otimizar o envolvimento do expectador na realidade dos personagens, fazendo com que ele “sinta” o escorregar sorrateiro do tempo impregnado na história, do primeiro ao último minuto. Alguns dos pontos fortes além da história em si é a competência técnica da direção de arte nos quesitos fotografia, efeitos especiais e, sobretudo, maquiagem.
David Fincher (Seven e Clube da Luta) e Eric Roth (Forrest Gump), diretor e roteirista do filme respectivamente, contam com excelência a história de uma vida (ou de várias) de chegadas e partidas, paixões e tragédias, tecida e amarrada tal como estão sutil e perfeitamente entrelaçadas as vidas de todos nós; e narrada pelos sibilos do surreal, onde a ficção se mostra surpreendentemente capaz de contar a realidade.
De fato, como seria a vida vivida ao contrário (se é que não seja assim que a vivemos)?
A sucessão de fatos e acontecimentos no tempo é o grande barato da vida, apesar e alheia ao próprio tempo. Nas idas e vindas dela, as histórias se cruzam, algumas por pouco tempo, outras por toda a existência, mas nunca sem um propósito. Alguns chamam isso de acaso, outros de destino.
E enquanto cresço e envelheço, vou vivendo ou não, amando ou não, me transformando interiormente ou teimando em permanecer a mesma, mas, apesar e independentemente de qualquer coisa, meu corpo caminha para o fim, que sempre parece justificar o começo.