domingo, 25 de janeiro de 2009

Benjamin Button, a metáfora do tempo



"Cada vez menos aparecem filmes que satisfazem num grau tão poderoso como este, então é preciso valorizá-los cada vez mais. “O Curioso Caso de Benjamin Button” estréia na temporada de prêmios e promete levar vários; merecidamente." - Ricardo Prado, crítico de cinema.


“Inacreditavelmente completo” é uma boa forma de definir O curioso caso de Benjamin Button (EUA, 2008), mas ainda assim, não é a ideal. Trata-se de um filme tão bem lapidado que seria injusto tentar enquadrá-lo numa única definição.
O que muitos podem considerar um deslize que impede a perfeição do roteiro é a duração de quase três horas de filme, o que de fato o torna um tanto cansativo, porém, a meu ver, esta pode ser considerada uma ferramenta da própria história, como uma parte do enredo capaz de otimizar o envolvimento do expectador na realidade dos personagens, fazendo com que ele “sinta” o escorregar sorrateiro do tempo impregnado na história, do primeiro ao último minuto. Alguns dos pontos fortes além da história em si é a competência técnica da direção de arte nos quesitos fotografia, efeitos especiais e, sobretudo, maquiagem.
David Fincher (Seven e Clube da Luta) e Eric Roth (Forrest Gump), diretor e roteirista do filme respectivamente, contam com excelência a história de uma vida (ou de várias) de chegadas e partidas, paixões e tragédias, tecida e amarrada tal como estão sutil e perfeitamente entrelaçadas as vidas de todos nós; e narrada pelos sibilos do surreal, onde a ficção se mostra surpreendentemente capaz de contar a realidade.
De fato, como seria a vida vivida ao contrário (se é que não seja assim que a vivemos)?
A sucessão de fatos e acontecimentos no tempo é o grande barato da vida, apesar e alheia ao próprio tempo. Nas idas e vindas dela, as histórias se cruzam, algumas por pouco tempo, outras por toda a existência, mas nunca sem um propósito. Alguns chamam isso de acaso, outros de destino.
E enquanto cresço e envelheço, vou vivendo ou não, amando ou não, me transformando interiormente ou teimando em permanecer a mesma, mas, apesar e independentemente de qualquer coisa, meu corpo caminha para o fim, que sempre parece justificar o começo.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Em Primeira Pessoa


Há um tempo não escrevo. Quase sempre surpreendo-me tentando encontrar o motivo. Não se trata de falta de assunto, muito menos de vontade, há tanto o que falar que nem sei!
Penso que quando a gente produz, seja lá o que for, não basta apenas uma idéia e a intenção de objetivá-la, a criação precisa ser “cuspida”. É como um parto, há que se colocar o incômodo para fora, mas não sem certa dor. Talvez por isso não tenha escrito, por medo da dor.
Cada linha escrita representa mais um centímetro no corte que rasga a pele do escritor, no fim do último parágrafo pode-se dizer que sua alma está exposta.
Quanto a mim, ando tão vulnerável que a última coisa de que preciso é abrir ainda mais o buraco que permite ver o que há por baixo de minha pele marcada. E tenho tanto medo de transparecer que acabo transparecendo cada vez mais, e a única razão para ser é que preciso disso. Eu sou assim. Cheguei a me deprimir ao pensar que talvez eu não mais escrevesse. Como se não fosse melhor assim... Me pouparia da dor.
Mas ciente de todas as dores que a escolha de minha conduta pudesse me causar, escolhi, ainda assim, a verdade. É minha sina. Essa sinceridade exacerbada que me despe diante dos olhos dos outros, essa nudez que vive a me violentar. Enfim. Eu sei que o que digo será usado contra mim, no tribunal diário do juízo alheio.
Não venha me dizer do direito ao silêncio, sinto-me sufocada é pelo dever do silêncio! Permaneçamos calados então, como criminosos.
Mas se viver de fato é crime, assino agora minha sentença. E se gritar, se me fazer notar através minhas palavras, tal como sou e penso, será a minha condenação, então já estou condenada.
Estou despida, deixo os meus conflitos, os meus sentimentos, a minha angústia para a vossa apreciação, sem medo. Eu tenho este direito! Não quero o direito ao silêncio, quero antes o direito ao grito!
É minha alma que agora berra. E quem sou eu para calar os berros da alma?

* Escrito em 02 de Janeiro de 2009

domingo, 4 de janeiro de 2009

(D)esperança

"Quem espera, desespera." - Autoria Desconhecida.

2009 é um novo ano e tudo promete ser diferente, parece ser uma oportunidade que se abre para nós, uma oportunidade de fazer tudo diferente, de consertar o que está errado, como um rito de passagem entre o que é e o que vai ser...

“mas o que vai ser não vai ser porque é um novo ano, porque são novos ares ou porque a nossa sorte vai mudar, mas o que vai ser, será, única e exclusivamente, porque nós faremos com que seja!
Os dias são todos iguais, 31 de Dezembro de 2008 não é diferente de 01 de Janeiro de 2009 e de nenhum outro dia de qualquer ano, nada faz com que os dias sejam especiais, exceto as nossas ações.

'temos todo o tempo do mundo, não temos tempo a perder. Nosso suor sagrado é bem mais belo que este sangue amargo'

A minha grande questão é: Por que esperar para que no ano que vem as coisas mudem?
Por que adiar a felicidade?

E se nosso tempo for escasso?
O tempo é ágil e hábil na arte de apagar, dores, mas também alegrias, ódio, mas também amor. Temo que ele passe e vá varrendo tudo o que hoje é bonito.
Tenho medo de que as coisas mudem, de que eu mude, meus sentimentos, porque eles são tão efêmeros, tão inconstantes, tão voláteis, que posso perder a oportunidade de me sentir como no sonho, quando tudo parece fazer sentido e, no momento seguinte, percebo que perdi a chance.
É uma pena a forma como deixamos as oportunidades escaparem, é triste...
Por nos importarmos tanto com o futuro, não vivemos o presente em plenitude. Vamos deixando, pro futuro, pro futuro, para ser melhor, no futuro.
Se no futuro vai ser ou não diferente, não importa tanto assim, o que importa, por ora é o presente, então qual a razão para não deixarmos o futuro no futuro?
Falando assim parece simples, é tudo tão bonito no reino das palavras (e é exatamente por isso que eu gosto tanto dele), pena que não seja assim no plano do real.
Mas, na minha opinião, fugir do tempo, matar o tempo, não enfrentá-lo é um gesto de covardia, porque aproveitar ou não o momento, aquele momento em que o coração bate mais forte e a mente parece fugir do controle, pode inclusive determinar o rumo de nossas vidas de forma positiva, ou causar destruição.
'Do jeito que tiver que ser, será.' Será?
Eu estive pensando em como esta 'filosofia' é passiva, covarde, afinal por que adiamos as coisas, senão por medo? O medo me parece a justificativa mais plausível para que não busquemos a felicidade. Medo de não encontrá-la.
A gente perde em não aceitar que a vida é feita de riscos e se não nos arriscarmos, talvez nunca saberemos o que é, de fato, viver... é o medo do fracasso que impede a felicidade humana, embora saibamos que o fracasso é inerente a um ser humano imperfeito.
Preciso aprender a lidar com o tempo e tudo o que eu peço é uma chance. Tudo o que queremos é uma oportunidade de viver as coisas, independente do tempo. Não vejo razão para não 'fazer no hoje' o que eu mais desejo. A única razão é a ignorância. O medo é ignorância!
Preciso aprender a lidar com o tempo, respeitar o meu tempo e o tempo do outro, mas isso tudo não parece fazer muito sentido pra mim e tenho uma razão para isso: a nossa própria finitude. Não somos imortais, e definitivamente o que eu não quero é morrer frustrada por viver dando tempo ao tempo que não temos.
Por enquanto, para mim, o Carpe Diem faz mais sentido!”