domingo, 18 de janeiro de 2009

Em Primeira Pessoa


Há um tempo não escrevo. Quase sempre surpreendo-me tentando encontrar o motivo. Não se trata de falta de assunto, muito menos de vontade, há tanto o que falar que nem sei!
Penso que quando a gente produz, seja lá o que for, não basta apenas uma idéia e a intenção de objetivá-la, a criação precisa ser “cuspida”. É como um parto, há que se colocar o incômodo para fora, mas não sem certa dor. Talvez por isso não tenha escrito, por medo da dor.
Cada linha escrita representa mais um centímetro no corte que rasga a pele do escritor, no fim do último parágrafo pode-se dizer que sua alma está exposta.
Quanto a mim, ando tão vulnerável que a última coisa de que preciso é abrir ainda mais o buraco que permite ver o que há por baixo de minha pele marcada. E tenho tanto medo de transparecer que acabo transparecendo cada vez mais, e a única razão para ser é que preciso disso. Eu sou assim. Cheguei a me deprimir ao pensar que talvez eu não mais escrevesse. Como se não fosse melhor assim... Me pouparia da dor.
Mas ciente de todas as dores que a escolha de minha conduta pudesse me causar, escolhi, ainda assim, a verdade. É minha sina. Essa sinceridade exacerbada que me despe diante dos olhos dos outros, essa nudez que vive a me violentar. Enfim. Eu sei que o que digo será usado contra mim, no tribunal diário do juízo alheio.
Não venha me dizer do direito ao silêncio, sinto-me sufocada é pelo dever do silêncio! Permaneçamos calados então, como criminosos.
Mas se viver de fato é crime, assino agora minha sentença. E se gritar, se me fazer notar através minhas palavras, tal como sou e penso, será a minha condenação, então já estou condenada.
Estou despida, deixo os meus conflitos, os meus sentimentos, a minha angústia para a vossa apreciação, sem medo. Eu tenho este direito! Não quero o direito ao silêncio, quero antes o direito ao grito!
É minha alma que agora berra. E quem sou eu para calar os berros da alma?

* Escrito em 02 de Janeiro de 2009

7 comentários:

Ana disse...

Adoro seus berros!

Heloisa Emy disse...

Marinha, marinha, marinha...
acho que entendo perfeitamente quando fala da dor... temo que também tenha parado de escrever para evitá-la!
Mas sabe o que eu percebi? Não adianta... pois me dói, mais do que quando eu escrevo. Dói escrever, dói pensar que não consigo escrever... dói tudo e me sinto perdida!! rsrs
Só sei que você grita muito bem, e não se importe com a sentença... ela é sempre diferente do que a gente espera!!
beijo

ps. desculpe-me pela ausência! assim como me afastei do blog, me afastei das pessoas... por medo, dor, tristeza... sei lá pq!! mas eu ainda volto! saudades

Fernando disse...

eu estou passando por momento semelhante, assim como ja passei outras vezes e sei q vc tb.

É como se fossemos nômades da literatura. Descobrimos um universo novo, de formas e vocabulários novos e nos embriagamos, e extinguimos tudo que ele tem a nos oferecer.
Mas aí então, como sempre, ele seca. Não há nada novo o suficiente que supere a fome anterior.
E enquanto caminhamos novamente até outros ares, ficamos assim: na angústia do silêncio.

...tenho a impressão de q vc encontrou.

Renato Tardivo disse...

rs. o esquecimento, a falta. sina de todós nós, né?

sabe que, uma vez (tem um bom tempo já), tinha me imposto ficar um tempo sem escrever. uma espécie de pausa forçada, para dar uma reciclada, respirada. aí, um dia sentei impelido a escrever sobre alguma coisa que tinha visto na bienal (foi 2004 isso). aí, começou a brotar uma narrativa meio esquisita. parei e pensei: ok, um parágrafo apenas. mas que nada. a coisa veio vomitada ("cuspida"); é até hoje um de meus textos de que mais gosto, até ganhei um prêmio com ele (isso é o que menos importa, enfim, mas nessa vida literária capenga pode ajudar).

você foi certeira: não podemos calar os berros da alma. parabéns.

Ana disse...

Oi querida...quero mto ler o seu texto, mas eu mudei de e-mail, cancelei minha conta do hotmail pq peguei um virus terrível...vc pode me mandar no do gmail, que é igual ao do hotmail, ou do yahoo que está no meu perfil do blog!
Bjs e estou aguardando!!

Anônimo disse...

tô falando... mas isso não é o mais importante, rs. foi um concurso realizado por uma editora pequena aqui de são paulo. o texto você já deve ter lido, porque ele já esteve nos dois blogs. chama-se "a porta do quarto".

Anônimo disse...

ps. peguei emprestado o "berros da alma", espero que não se importe. mas citei seu nome... rs! lá, no paralelo.