Ele estava exausto, mas tinha certeza de que se conseguisse dormir jamais teria um sono tranqüilo. Então voltou pra casa com a cabeça a mil, antecipando a noite que passaria às claras, tentando descobrir onde errou, ou pior, não aceitando o erro.
Não sabia se o cansaço era proveniente da insônia ou a insônia do cansaço, a verdade era que ele não sabia mais, estava desarmado diante si mesmo.
O problema não era a nota "baixa", que seria a responsável por essa noite mal dormida, o problema eram as outras noites.
Enfim a cabeça pesada, pulsando de frustração, despencou sobre o travesseiro, e o corpo rígido, virava de um lado para o outro na cama, sem encontrar posição.
Não queria mais pensar, mas o "não querer" o fazia pensar ainda mais.
Aos poucos se dava conta de algumas coisas que faziam outras tantas ficarem ainda mais privadas de compreensão, ele havia se resumido a isso: caos.
Estava difícil controlar as idéias que pulsavam incessante e repetidamente em sua cabeça. Não ter o dez, não ter namorada, não ter um carro, não ter, simplesmente não ter. Pela equivalência neurótica, lembrava das aulas sobre psicanálise, não ter é não ser.
Estava claro como nunca que, apesar de não saber quando nem como, ele havia se tornado um obsessivo sufocado por um severo sentimento de inferioridade do qual tentava desesperadamente se defender, a cada ato.
O cabelo impecável, a compulsão por sapatos, a preocupação descomedida com as roupas que jurava não ter, as horas de estudo, os gastos irrefreados com presentes, a necessidade aflita de agradar, as incansáveis revisões de tarefas, a fixação pelo reconhecimento.
Você é um lixo – uma voz lá dentro dizia - Você está todo corrompido, estragado. Disfarce o estrago antes que os outros percebam.
E quanto mais tentava disfarçar, mais temia ser descoberto. Inútil.
De fato, essa noite ele não dormiria.
E nas outras também não, não enquanto as retóricas que ecoavam dentro de si (e que insistia em projetar) permanecessem sem resposta. Mas o problema é que retóricas não buscam respostas.
“A quem se dirige a pergunta?”
A quem quer que seja capaz de não tentar respondê-la. Como não saber incomoda, frustra, continuo buscando saber mesmo sabendo que jamais saberei. Saber é ter e ter é ser. Assim, a falta é o que impulsiona a vida.
O problema não era a nota "baixa", que seria a responsável por essa noite mal dormida, o problema eram as outras noites.
Enfim a cabeça pesada, pulsando de frustração, despencou sobre o travesseiro, e o corpo rígido, virava de um lado para o outro na cama, sem encontrar posição.
Não queria mais pensar, mas o "não querer" o fazia pensar ainda mais.
Aos poucos se dava conta de algumas coisas que faziam outras tantas ficarem ainda mais privadas de compreensão, ele havia se resumido a isso: caos.
Estava difícil controlar as idéias que pulsavam incessante e repetidamente em sua cabeça. Não ter o dez, não ter namorada, não ter um carro, não ter, simplesmente não ter. Pela equivalência neurótica, lembrava das aulas sobre psicanálise, não ter é não ser.
Estava claro como nunca que, apesar de não saber quando nem como, ele havia se tornado um obsessivo sufocado por um severo sentimento de inferioridade do qual tentava desesperadamente se defender, a cada ato.
O cabelo impecável, a compulsão por sapatos, a preocupação descomedida com as roupas que jurava não ter, as horas de estudo, os gastos irrefreados com presentes, a necessidade aflita de agradar, as incansáveis revisões de tarefas, a fixação pelo reconhecimento.
Você é um lixo – uma voz lá dentro dizia - Você está todo corrompido, estragado. Disfarce o estrago antes que os outros percebam.
E quanto mais tentava disfarçar, mais temia ser descoberto. Inútil.
De fato, essa noite ele não dormiria.
E nas outras também não, não enquanto as retóricas que ecoavam dentro de si (e que insistia em projetar) permanecessem sem resposta. Mas o problema é que retóricas não buscam respostas.
“A quem se dirige a pergunta?”
A quem quer que seja capaz de não tentar respondê-la. Como não saber incomoda, frustra, continuo buscando saber mesmo sabendo que jamais saberei. Saber é ter e ter é ser. Assim, a falta é o que impulsiona a vida.
E volto à primeira pessoa, afinal a essas alturas você já deve ter percebido o óbvio: o rapaz sou eu, apesar de, “paradoxalmente”, ser uma garota.
O motivo pelo qual tenho me colocado numa posicão masculina já não é mais uma incógnita pra mim, pelo menos em termos. Mas como eu havia dito, as conclusões são capazes de dar margens à tantas outras dúvidas, das quais grande parte permanecerá em caráter de dúvida.
E, mesmo depois de tanto esforço, o dez não veio. Mas por que mesmo eu precisava dele?
Para provar o quanto eu sou boa?
Provar pra quem?