Lá pelas sete o sol nasceu para mim. Era um novo dia, uma nova manhã.
O cheiro da manhã é de liberdade.
E o coração batia pela primeira vez neste novo dia. (Luz) agora posso ver novamente meu rosto no espelho...
Um segundo rosto. O sol iluminou a face dele em diagonal. E o corpo iluminado transfigurou-se em corpo luminoso.
O cheiro da luz é de liberdade.
Abro a janela do quarto e, logo ali, voando baixinho num céu azul turquesa antes nunca visto, um solitário pássaro branco. E agora descubro o quanto é frágil minha normalidade muda. Patológico?
Descubro agora que não sou boa o bastante. Que minha vida não é boa o bastante.
Fecho a janela.
O vôo do pássaro termina cedo. Às seis o sol já está se pondo.
Estou com sede, vou até a cozinha. Mas a cozinha não resolve, pois minha sede é de conceitos.
Os conceitos, as cozinhas, tudo é tão perecível e eu nem se quer preciso disso. Dessa água não. Não beberei. Mas estou com sede. Enquanto ouço uma voz lá dentro falando de preconceito. O Pré - conceito vem antes. Patológico? É dessa fonte que bebemos.
A tristeza vem antes da felicidade.
Na verdade nunca se sabe o que vem depois.
Parece fácil. Depois do Pré, o Pós. Depois da manhã, a tarde, depois da tarde, a noite. Depois da vida...
Ontem à noite eu tive um sonho. Sonhei que a porta se abriu e era exatamente quem eu esperava. Sonhei que o pássaro branco entrou pela janela e trouxe a luz da manhã. O corpo iluminado, transfigurou-se em fonte de luz.
E eu sonhei e só. Depois do Pré, o Pós. Depois do sonho, a realidade.
Na verdade a gente nunca sabe o que vem antes e o que vem depois.