quarta-feira, 26 de novembro de 2008


Lá pelas sete o sol nasceu para mim. Era um novo dia, uma nova manhã.
O cheiro da manhã é de liberdade.
E o coração batia pela primeira vez neste novo dia. (Luz) agora posso ver novamente meu rosto no espelho...
Um segundo rosto. O sol iluminou a face dele em diagonal. E o corpo iluminado transfigurou-se em corpo luminoso.
O cheiro da luz é de liberdade.
Abro a janela do quarto e, logo ali, voando baixinho num céu azul turquesa antes nunca visto, um solitário pássaro branco. E agora descubro o quanto é frágil minha normalidade muda. Patológico?
Descubro agora que não sou boa o bastante. Que minha vida não é boa o bastante.
Fecho a janela.
O vôo do pássaro termina cedo. Às seis o sol já está se pondo.
Estou com sede, vou até a cozinha. Mas a cozinha não resolve, pois minha sede é de conceitos.
Os conceitos, as cozinhas, tudo é tão perecível e eu nem se quer preciso disso. Dessa água não. Não beberei. Mas estou com sede. Enquanto ouço uma voz lá dentro falando de preconceito. O Pré - conceito vem antes. Patológico? É dessa fonte que bebemos.
A tristeza vem antes da felicidade.
Na verdade nunca se sabe o que vem depois.
Parece fácil. Depois do Pré, o Pós. Depois da manhã, a tarde, depois da tarde, a noite. Depois da vida...
Ontem à noite eu tive um sonho. Sonhei que a porta se abriu e era exatamente quem eu esperava. Sonhei que o pássaro branco entrou pela janela e trouxe a luz da manhã. O corpo iluminado, transfigurou-se em fonte de luz.
E eu sonhei e só. Depois do Pré, o Pós. Depois do sonho, a realidade.
Na verdade a gente nunca sabe o que vem antes e o que vem depois.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Oh My God, He Is Black!


Em primeiro de janeiro de 2003, aqui no Brasil, um metalúrgico de São Bernardo do Campo assumia a presidência da República. Exceto pela queda da ditadura e pelas eleições diretas, podemos dizer que esta foi a maior conquista sócio-política da história nacional moderna, onde toda a sociedade brasileira pôde assistir a classe trabalhadora, vítima de inúmeras repressões e humilhações ao longo dos tempos, subir ao poder.
Quase seis anos depois. Eu e o mundo inteiro pudemos ver, embora muitos ainda não acreditassem, um negro ser eleito presidente de um país que, além de ser a maior potência mundial e, portanto, berço da hegemonia burguesa, é conhecido como uma nação tradicionalmente racista em que, entre outras coisas, brancos e negros são separados por bairros.
Mais do que uma questão de preferência partidária como a mídia veicula, o que o mundo inteiro assistiu ontem, assim como o Brasil assistiu há seis anos, foi o grito desesperado das chamadas “minorias” (o que sabemos que não são...), um impetuoso grito de libertação, um grito sufocado há séculos e que há muito ameaçava soar.
Os EUA, no dia 04 de novembro de 2008 gritou por mudança. Nós brasileiros fizemos o mesmo quando fomos às urnas e elegemos Lula como presidente. Esta analogia entre a história destes dois homens, como eleitos de duas sociedades insatisfeitas e suplicantes por mudança em muitos aspectos pode parecer ingênua e utópica, pois, de certa forma, subestima os vários outros fatores, além da questão classista, que estão envolvidos nestas duas eleições e suas possíveis deficiências, mas espero não estar sendo exagerada em dizer que elas refletem uma nova sociedade, novas demandas sociais, e que esta “nova sociedade” tanto mais se renovará quanto mais suas ações tomarem grandes proporções, nesta medida, a eleição de um presidente negro nos Estados Unidos implica numa mudança que já está ocorrendo, mas que agora toma proporções mundiais, em outras palavras, o que quero dizer é que esta eleição muda, em alguma medida, toda a história da humanidade, e que assim seja.