sexta-feira, 11 de julho de 2008

O amor é uma força da natureza.


Passados mais de dois anos de sua estréia nos cinemas nacionais, assisti, na última sexta-feira, ao filme, do cineasta taiwanês Ang Lee, “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), como foi chamado no Brasil.
Longe de ser um clássico, o filme, para a redenção de Ang Lee, está ainda mais longe de se encaixar nos moldes do entretenimento de massa, como foi Hulk, uma das últimas produções do diretor.
Para quem procura ação, com certeza, eu não recomendaria Brokeback. Há quem diga que seu roteiro é “arrastado”, a meu ver, este “marasmo” é uma estratégia inteligente e indispensável ao desenvolvimento do enredo. Brokeback é, ao contrário, um filme emotivo.
A produção recebeu oito indicações ao oscar, incluindo melhor filme, sendo considerado o favorito a vencer nessa categoria (não que isto seja de extrema relevância para mim, mas o oscar é sempre uma referência, se este é um fator positivo ou não, já é outra história).
Mas para o desapontamento da crítica, Brokeback não levou a estatueta, senão pela direção de Ang Lee, cabe dizer que, este foi o primeiro oscar do cineasta. Além da categoria “melhor diretor”, o filme levou mais duas estatuetas: Melhor roteiro adaptado e melhor trilha sonora original, sem contar inúmeras premiações em eventos estrangeiros.
Confesso que nada disso importou quando fiz a escolha do filme: foi totalmente ao acaso e à seco; não li a sinopse, apenas aluguei.
Mencionei este detalhe porque o considero indispensável para a minha posterior impressão, na qual é fundamentada toda esta crítica.
As belas paisagens montanhosas do Estado de Wyoming, no meio-oeste americano e do, também interiorano, Texas, foram o cenário utilizado para trazer às telas a controversa e polêmica temática da homossexualidade.
Brokeback é baseado no conto homônimo da jornalista e escritora americana Annie Proulx e conta a história de Ennis Del Mar e Jack Twist, dois jovens cowboys que se conhecem durante um emprego temporário no verão de 1963.
Isolados do mundo no alto da Montanha Brokeback, e tendo como companhia apenas dois cavalos, cães e o rebanho de ovelhas que foram contratados para proteger, os diálogos entre os personagens centrais são sempre bastante densos, o que faz com que cresça, de forma hiper sutil, uma amizade e um companheirismo instintivo e conflituoso que culmina, surpreendentemente, num urgente encontro sexual entre os dois.
O roteiro, igualmente perturbado, parece seguir à risca o estado de humor dos personagens, que, mesmo apaixonados, são obrigados a seguir caminhos diferentes.
Embora a sutileza seja a marca registrada nas relações entre os personagens, e, de fato, há um clima de tensão do primeiro ao último minuto, o que dá charme à Brokeback é justamente o contraste dado pelas atitudes sempre tão extremadas dos personagens, após longos períodos de repressão dos sentimentos.
O grande trunfo da obra-prima de Ang Lee, além das brilhantes atuações do falecido ator australiano Heath Ledger e do americano Jake Gyllenhaal, é, sem dúvida, a sensibilidade e a concisão com que o enredo se desenvolve.
O filme é todo uma grande surpresa, a começar por se tratar da história de amor entre dois cowboys, o que, de certa forma, subverte a antiga imagem de homens machões que se tem dos cowboys desde os antigos westerns.
E realmente, até a primeira cena de sexo do filme, o que menos se imagina é que eles sejam gays, na realidade, é necessário que se enfatize, nem os próprios sabiam disso.
Brokeback é um filme de poucas palavras e repleto de sentidos implícitos.
E, aproveitando-se desta atmosfera silenciosa, dispara um tiro certeiro que atinge paradigmas sociais complexos. Com um roteiro provocante, o filme levanta questões difíceis, tocando também em profundos e delicados princípios individuais, e se não exagero, desequilibrando padrões de pensamento, leva os espectadores a rever certos conceitos. E a questão vai muito além do preconceito e da homofobia.
O Segredo de Brokeback Mountain é, antes de mais nada, um filme sobre amor.
E se o amor é mesmo uma força da natureza (como são os instintos); se amar não se aprende, não se renega, apenas se ama, então Brokeback talvez seja uma das obras que trouxe com mais propriedade a temática do amor enquanto tal, na história do cinema. Isto, claro, na minha leiga e humilde opinião.
Quanto ao medo e aos opostos, este duelo impregnado na atmosfera do filme vem ilustrando o que, a meu ver, caracteriza o grande dilema humano:
Arriscar-se à felicidade ou passar a vida se escondendo?
Ennis Del Mar e Jack Twist fizeram suas escolhas. E o final é óbvio, mas ainda assim, surpreendente (e também neste sentido a arte imita a vida), como não poderia deixar de ser.




Leia o conto de Annie Proulx na íntegra.

8 comentários:

Ana disse...

Assisti alguns pedaços do filme- dormi na maior parte, por sono meu e não por marasmo dele- mas posso dizer que admirei sua fotografia e enredo.

Várias reflexões podem ser feitas a partir dele. Sobre o amor, o comportamento, os (pré)conceitos e assim por diante...

Na minha opnião, é fundamental reservarmos uma parte do nosso tempo para pensar nessas coisas e avaliar o nosso comportamento...conosco e com os outros.

Fernando disse...

Vi o filme há uns 2 anos. Recomendação do meu professor de teatro.
Gostei bastante, e como vc, conclui que é uma história de amor. Daquelas impossíveis, como a vida adora passar.

Pena q Heath Ledger não está mais aqui. Era um grande com mto futuro... semana q vem estréia Batman. Disserm q ele tá perfeito.

Beijos e ótima crítica

Ana disse...

(resposta)
Pois é...tantos planos durante a faculdade e agora, seis meses depois do fim, tô eu aqui pensando em como colocar tantos sonhos na prática. Dificil, mas NÓS vamos chegar lá. Tenho certeza.

Heloisa Emy disse...

OMG!!!!
Ótima crítica, sem dúvidas. Mas, infelizmente, ainda não vi este filme.
Verei o filme, e comentarei novamente, aqui ou diretamente para você, a maneira não importa!
Como você consegue? Aiii que inveja viu?!

Um beijo muito carinhoso e cheio de saudades!

Naiade Pinheiro disse...

Não gosto das coisas que vc escreve mesmo! [tom estupidamente irônico]
Marinhaa...eu tenho que admitir que não concordo muito com esse filme, mas vou deixar bem claro que não tenho nada, eu disse NADA contra!
A história é realmente linda [e os atores...] e a forma como vc fez essa crítica, conseguiu fazer a história ficar mais bonita ainda...
Parabéns, Marinha... e eu quero o livro quando vc lançar!
shaiushauishauhs


amoo³

Fernando disse...

Pois é.. eu disse isso uma vez num texto antigo, não sei se vc já viu. As vezes a resposta do porque é simplesmente "porque sim".
E com isso em mente vem ao menos o conforto de não ter q buscar uma resposta, e não perder tempo nessa busca.
Existem mtas outras respostas não tão diretas como essa que merecem nossa dedicação... Pelo menos é assim q eu vejo.

Beijos

Renato Tardivo disse...

reflexão inteligente. me lembrei, lendo seu texto, da trilha sonora. aquele violãozinho folk meio frio.

curioso que, na vida real, as "partidas" se invertam...

Anônimo disse...

Teste...