sexta-feira, 18 de julho de 2008

Medíocre



À Rafael Nunes, o poeta anônimo


Eu sou poética demais
Para gostar do concreto
Números são (exatos) demais
Enquanto palavras são (imprecisas) de menos
Eu sou sentimental demais
Para compreender a lógica
Não há espaço para filosofia
Quando o coração está repleto.
Prefiro pensar com o coração
Limito-me a isso
Assim como minha poesia é limitada,
Pois meu ser é simples
Simples existência sem razão
Em meio à multidão sem chão,
Correndo às voltas (sem intenção), na imensidão
Multidão, sem expressão
Presa a mais números (o que já são).
As horas passam... Apenas unidades de medida.
Eles te controlam.
Vida?
É esta a vida que temos.
E nada mais.
Nunca devo ter problemas com o tempo
Aquilo que dita o que você é: Seu saldo bancário
Quantos diplomas você tem?
Quantas horas - extra trabalhou?
Estes são os registros gerais da ignorância humana
Que classificam pessoas com código de barras
Não admito ser mais 1 número
Que ironia, já sou
Nasci em seis do quatro
e ganhei uma certidão por isso
Tornar-se-á o registro um arquivo
E estes números, pó,
No fim.
Por ora, dedico - me a ser quem sou
E a fazer o que faço.
Fui inspirada (a escrever) por um poeta anônimo
Mais um Zé - Ninguém falando para ninguém ouvir
Ele nem se quer tem idade para votar
Mas é muito mais gente do que muita gente grande por aí.
Talvez eu não devesse fazer o que faço
Mas sempre que tento fugir,
sou levada, forçada a continuar...
e gosto!
Pronto
Admiti.
Assinei a minha condenação,
Não vou mais negar, não quero mais mentir
Sou uma pessoa de palavra
E confesso
Respiro poesia, durmo poesia, almoço poesia
Vivo poesia
E isto é tudo o que importa para mim, neste momento
São estas raízes
São as raízes de minha vil existência cravadas
na abstratez das palavras.


*Escrito em Novembro de 2007

8 comentários:

Heloisa Emy disse...

o (seu) ser não é um ser simples, é muito complexo. e essa é a beleza!

você já havia me falado desse poema, não tenho certeza se já o li, mas ele não me é estranho.

adorei! e por favor, tire o tentando fazer poesia... assim você me envergonha!

Ana disse...

Talvez ser um número seja inevitável no mundo de hoje. Mas ser um número único, que faz a diferença, é uma questão de escolha.
Ao que parece, você já fez a sua, usando as palavras como aliadas.

Renato Tardivo disse...

o versos já admitiriam por você...

o aspecto visual do poema me lembrou a linha da vida, com aberturas, estreitamentos, alegrias, sofrimentos. movimento.

Marcelo Francesco disse...

O que somos de fato?
O que classica o que somos ou não? os números, os róulos?

Podemos ser tudo isso para os outros, mas nós, vivemos esse "título" ou nos deixamos ser somente o que somos e nada mais?

Excelente poesia!!

beijosss

Ana disse...

(resposta)
Concordo plenamente com você que os heróis são os responsáveis, de alguma forma, pela criação do caráter das crianças.

Mas engraçado, nunca tinha pensado nisso. Me limitava a sensação ruim que eles produziam em mim- a frustração de saber que talvez a vitória do bem seja impossível. Puro egoísmo da minha parte.

Obrigada pelo comentário esclarecedor.

Heloisa Emy disse...

Marinhaa!! Saudade de vc!
ah, to com idéias.. acho que vou escrever, aí eu posto ta?!
rsrs... como vc ta heim?
beijo cheio de saudade

Heloisa Emy disse...

quanto à visita... não poderia ter sido melhor!
quando vamos nos ver?
e lá não é minha cidade natal, sou paulistana! lá é minha cidade de criação!!
memórias, lembranças! é muito gostoso e doloroso voltar lá...

beijo querida!

Heloisa Emy disse...

Aiii fiquei curiosaaa!! Me conta, onde foi ontem? rsrs

Eu fiz um álbum com as fotos da minha cidade, depois vc vê.. e quanto a postar no meu blog, ainda não sei quando, mas acho q um dia eu posto de novo! =]

borboletas, entra!!

beijos