terça-feira, 10 de junho de 2008

Que gosto tem o mel?


À Helô, minha mais nova querida amiga de todas as horas


Encho minhas narinas com o ar de um novo dia.
Não está ensolarado hoje, mas é bom poder respirar este ar.
Sento-me aqui nesta cadeira porque senti necessidade de falar sobre o que sinto. Ontem à noite voltando da faculdade pensei em escrever, mas já era muito tarde e eu estava exausta.

O meu coração anda batendo tão acelerado, só pode ser estresse...
Hoje quero abrir mão das metáforas que eu tanto aprecio, da linguagem poética, do vocabulário rebuscado, quero falar do que sinto. E o que sinto é tão simples, seu sentido está neste ar que eu respiro, não em palavras sofisticadas, por isso talvez seja tão difícil falar sobre sentimentos.
Entender é que é difícil. E às vezes dói, ontem à noite doeu.

É bonito, tão bonito que dói. Mas também é esquisito, triste. Eu não sei, mas queria saber.
Já desisti porque nunca consigo, embora no fundo, eu saiba que a resposta está muito perto, o que geralmente faço é fechar os olhos para ela, mas quem não faz isso?
Eu estou insegura e totalmente rendida, não é fácil admitir a impotência diante de mim mesma, “mentir para si mesmo é sempre a pior mentira”, por outro lado, é difícil lidar com a verdade, seja ela qual for. Quem diria, logo eu que sempre abominei a mentira! Surpreendo-me mentindo (mais uma vez!).
Nos olhos dele há uma ternura tão grande, não é possível que só eu perceba o quanto ele é um homem solitário. E não precisei conhecê-lo para saber disso, percebi no primeiro momento que o vi. Olhar para os olhos dele me desconcentra e mexe profundamente comigo, pensei inclusive em não encará-lo de frente, mas desisti da idéia, não sei por que, é melhor olhar do que não olhar. De qualquer forma, essas atitudes denotam certo medo, eu acho. Mas é que naqueles olhos não é difícil se perder, olhando para eles ontem viajei para longe, muito longe. Era um lugar onde tocava música, MPB, como ouço agora. Durante todo o tempo meus olhos não o deixaram, mesmo quando eu não olhava para ele, podia vê-lo, eu sempre o observo.
Ele não é bonito, talvez até seja, mas não no meu estilo (a estas alturas, já não sei mais se tenho um), não sei dizer o que vejo quando olho para ele, quem sabe eu não veja, apenas sinta.
Gosto do movimento de seus lábios enquanto fala, gosto do formato de seus dentes, mas principalmente adoro tudo o que o que vem de sua boca, cada palavra! Confesso, antes não era assim.
Ele não é atlético, mas tem um corpo simétrico, gracioso, bonito de ver, e o estilo de quem não está nem aí para a roupa que veste: “Danem-se, pensem o que quiserem de mim!”. *

Observo sua leitura compenetrada. Penso na pessoa que está ali sentada, no pai, no filho, no homem, no intelectual. Transporto-me para outra dimensão, uma realidade só minha, onde a gente caminha pisando no céu, neste lugar os sonhos são possíveis e as loucuras verdadeiras, vividas intensamente, sem medo. Lá não há correntes amarrando meus pulsos e eu posso abraçá-lo, é um sentimento puro, sem interesse. Eu sinto seu coração batendo, há alguém ali, alguém humano, não superior, mas imperfeito, como eu. Um estalo me traz de volta à realidade.* Parece interessante o que ele lê, está ali: “o que será que ele está pensado?”
Há tanta expressão em seu rosto, mais do que em qualquer outro. Tudo nele me atrai. São vontades estranhas que sinto quando olho para ele, quando o ouço falar, a voz, o vocabulário, o jeito... eu quero rir e chorar ao mesmo tempo, como se fosse possível. Mas não. Eu posso afirmar que não estou apaixonada, imagina, nem poderia! Se me apaixonasse, seria paixão e só, é um sentimento que já me é familiar, muito familiar, algo que fica aqui dentro um tempo, aumenta e depois vai embora. Mas dessa vez é diferente, eu sinto e não sei o que, mas vai ser só para mim.
O tempo passa numa velocidade inacreditável. É um tempo surreal, não cronológico. Tudo remete ao fim, parece que essa noite está doida para ir embora e me deixar, há ansiedade no ar e em alguma coisa na voz dele, isso me deixa com raiva, muita raiva. Mas isso já é uma outra história...*
A imagem da sala escura, ele sentado, a perna cruzada, a mão no joelho, esta imagem está aqui dentro e eu vou levar comigo para sempre (até que acabe), seus olhos e seus olhares, seus sorrisos (ele tem vários!), sua boca e o mel. Há mel em sua boca, mas eu acho que é um mel amargo.
Enquanto viajo em sua imagem e penso no gosto que tem o mel, tudo parece fazer sentido bem na minha frente. Mas aqui onde eu estou nada faz sentido.*
Está tão perto, mas está tão longe.
Pelo menos sei que este ar que respiro sai de sua boca, respiro o movimento de seus lábios quando ele fala. Eu poderia beijá-lo (e saber se o mel é mesmo amargo), mas só em pensamento.

**Escrito em Maio de 2008**

3 comentários:

Heloisa Emy disse...

Mara!!!!

É estranho... eu tive a oportunidade de ler esse texto na época em que escreveu, faz o que? Um mês? Um pouco menos talvez... mas o que senti hoje ao ler, é totalmente diferente de quando li da primeira vez.

"Não sou o que se pode classificar de rapaz bonito. Mas tampouco sou feio. Sei disso." Familiar?? rsrs... mas a beleza dele não está só no exterior né?? Não é isso que te atrai... é muito mais!

Lindo texto, cada vez mais lindo, de acordo com o tempo! Um texto, várias interpretações. Resoltado de cada uma: fascinate!

E ahá!!!! Você já pensou então e até sonhou, e depois fala de mim!

Adoro!

Beijos

Fernando disse...

E que gosto tem o pensamento?!

Às vezes tudo q a gente quer é pensar doce, mas o salgado insiste em não sair da nossa cabeça.

Gostei bastante do texto. Tem sabor de sinceridade...

Que seja eterno enquanto dure! disse...

Mara! Gostei muito do texto! No começo do texto você fala que não queria escrever bonito?rss...não conseguiu! rss...
Vou dar uma olhada nos outros textos!
Beijos