quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Hoje não escrevo


Hoje faz exatos vinte dias que não publico nada novo. Precisava de um tempo para mim. Quando escrever deixa de ser um hobby para vestir a roupa da necessidade, sinal de que algo está errado. Desde que criei este blog, há apenas quatro meses, me deixei levar por mais um vício, e então passei a postar, quase sempre, duas vezes por semana. Esgota. A mim e a vocês.
Aproveito o ensejo para expressar minha sincera gratidão pelas mais de seiscentas visitas (tá, as minhas próprias visualizações de perfil não contam!), aos que comentam e aos que apenas lêem, para estes últimos devo dizer que o fato de lerem, por si só, é uma grande recompensa. E aos comentadores assíduos, saibam que é uma honra “ouvir” o que vocês têm a dizer.
O fato é que eu já não consigo mais ficar longe deste espaço por muito tempo.
Mas hoje não escrevo. Não sou eu quem fala hoje, me calo para, junto a vocês, ouvir as palavras deste gênio da linguagem e da metafísica (e quem sabe aprender com elas...).
E dedico meu silêncio aos leitores deste blog.


*A crônica se segue no próximo post.*

Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos.

Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário.
O que você perde em viver, escrevinhando sobre a vida. Não apenas o sol, mas tudo que ele ilumina. Tudo que se faz sem você, porque com você não é possível contar. Você esperando que os outros vivam para depois comentá-los com a maior cara-de-pau (“com isenção de largo espectro”, como diria a bula, se seus escritos fossem produtos medicinais). Selecionando os retalhos de vida dos outros, para objeto de sua divagação descompromissada. Sereno. Superior. Divino. Sim, como se fosse deus, rei proprietário do universo, que escolhe para o seu jantar de notícias um terremoto, uma revolução, um adultério grego - às vezes nem isso, porque no painel imenso você escolhe só um besouro em campanha para verrumar a madeira. Sim, senhor, que importância a sua: sentado aí, camisa aberta, sandálias, ar condicionado, cafezinho, dando sua opinião sobre a angústia, a revolta, o ridículo, a maluquice dos homens. Esquecido de que é um deles.
Ah, você participa com palavras? Sua escrita - por hipótese - transforma a cara das coisas, há capítulos da História devidos à sua maneira de ajuntar substantivos, adjetivos, verbos? Mas foram os outros, crédulos, sugestionáveis, que fizeram o acontecimento. Isso de escrever O Capital é uma coisa, derrubar as estruturas, na raça, é outra. E nem sequer você escreveu O Capital. Não é todos os dias que se mete uma idéia na cabeça do próximo, por via gramatical. E a regra situa no mesmo saco escrever e abster-se. Vazio, antes e depois da operação.

3 comentários:

Renato Tardivo disse...

um silêncio (em itálico) muito interessante...

Heloisa Emy disse...

e que silêncio heim... você e drummond tem uma relação muito bonita! eu aprendi com você a aprender com ele...
não pare de escrever minha querida, é um dom!
mas acho que sei como você se sente quando fala em obrigação...
mesma coisa que eu sinto, mas a única diferença é que eu não to com idéias!
beijos querida ^^

Naiade Pinheiro disse...

Neeeeeem me fale em "obrigação", Marinha...
Não tô conseguindo postar mesmo... não tem o que escrever...

E não sinto saudaaades...

beeeeeijos