domingo, 12 de julho de 2009

Milionário versus Benjamin Button


Depois de meses ensaiando, finalmente assisti ao ganhador do Oscar deste ano. Estava ansiosa para vê-lo, mas a oportunidade não vinha.
Antes da premiação, tinha a idéia de assistir aos indicados a fim de obter parâmetros para fazer minha própria avaliação. Como nos outros anos, a idéia não se concretizou e acabei por ver apenas o “Curioso Caso de Benjamin Button”, filme que não apenas despertou uma profunda admiração, como conquistou o topo da minha lista de favoritos. Indubitavelmente, uma obra prima do cinema americano da última década.
Foi impossível esconder a decepção quando a estatueta não veio. Controlei a indignação até que pudesse tirar conclusões menos injustas. Enfim a oportunidade chegou.
Bem, vamos então ao ganhador: Slumdog millionaire (Reino Unido/Índia, 2008) se trata de um projeto revolucionário que foge aos padrões hollywoodianos, não apenas pelo baixo orçamento e por ter sido rodado muito longe das fronteiras americanas, mas sobretudo, pela roupagem. O que, em minha opinião, foi o grande acerto do filme. Inovador e, pelas próprias condições, surpreendente.
Algumas tomadas, logo no início, me lembraram um estilo muito explorado pelo cinema nacional, a cena dos garotos correndo pelas vielas da favela, filmadas quase sempre de frente ou de cima, com cortes secos e uma maior velocidade na mudança de ângulos, compele dinamismo e ação à cena e causa uma sensação de impaciência e aflição aos expectadores. A estética documental e veloz remetem ao filme "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, a diferença se observa numa fotografia mais trabalhada, que torna as imagens menos cruas e mais suaves, causando a impressão de um sutil desbotamento responsável pela instauração de uma atmosfera poético-moderna nas cenas.
Mas o que de fato teria feito de “Quem quer ser um milionário” merecedor da estatueta de melhor filme? A principal razão talvez tenha sido o fato de que a produção, valendo-se de um argumento tão pífio quanto um programa televisivo de entretenimento de massa, o transformou numa história de valor digna de ser não apenas assistida, mas admirada.
Não fosse pela brilhante maneira com que a história foi contada, ela estaria condenada à mediocridade, aliás, se pensarmos em termos do enredo em si, e desconsiderarmos a proeza artística de Danny Boyle, podemos dizer que a história do garoto pobre, porém bondoso e perseverante e da mocinha sofredora e submissa, não caracteriza nenhuma inovação no cinema, muito pelo contrário, trata-se de uma repetição desgastada. A própria “história de amor impossível”, chapada, sem nenhum diferencial das outras tantas espalhadas por aí, teria sido capaz de tornar o filme um fiasco, caso ele se resumisse a isso, o que não ocorre.
Bonito e interessante, “Quem quer ser um milionário” revela o verdadeiro princípio do saber humano, deixando claro que o aprendizado nada tem a ver com o simples preenchimento de uma vaga na escola, ou com as oportunidades proporcionadas pelo dinheiro, mas com as experiências e o sentimento experimentado em cada situação vivida.
Há muito mais pra se falar sobre o filme, a montagem, a direção de som, a edição, são alguns de seus destaques, contudo, inicialmente esta crítica tinha outra intenção.
Se fosse eu a julgar, Benjamin Button teria levado o prêmio, sobretudo porque como já disse, para mim se trata de um filme completo.
“Benjamin” possui um bom argumento, um roteiro bem lapidado, ademais de a direção ter acertado em cheio, boas atuações e uma direção de arte formidável tornaram o filme profundo, além de comovente. Um filme que nos inspira e que a cada vez que se assiste, percebe-se algo novo acerca da condição e das relações humanas. Ao contrário de “Milionário”, não tem um final feliz, mas sim melancólico, justamente porque se aproxima mais da realidade, ao mesmo tempo em que se distancia pelo fantástico da obra. Só mais uma diferença: Benjamin Button não é um filme burguês disfarçado de plebeu.
De um lado, uma produção quase que independente, contando com um orçamento mínimo, gravado na Índia e com um elenco desprovido de atores consagrados, porém com uma história movida pela ideologia capitalista.
De outro, um filme tipicamente hollywoodiano, produzido com um orçamento generoso, roteirizado e dirigido por grandes nomes e protagonizado por Brad Pitt e Cate Blanchett.
É fato que este ano a academia surpreendeu (mas nem tanto). Também o é, que eu própria esteja surpresa por ter preferido o segundo, geralmente a simplicidade artística condiz mais com o meu estilo. Mas dessa vez, caro leitor, fico com a legitimidade.
Enfim, lanço a seguinte questão: a avaliação que define o “melhor filme” não deve levar em consideração o conjunto da obra? Pois bem, pelo conjunto da obra “Milionário” deixou a desejar, contudo vale assistir uma segunda vez, afinal bons filmes se renovam a cada sessão.

Um comentário:

Ana disse...

Quem não quer ser um milhionário que atire a primeira pedra! hehehe
Não vi nenhum dos dois...mas pretendo ver!

Pois é, fui pra lá sim...fui ser criança de novo e foi a melhor coisa do mundo...agora, de volta a realidade!!

Bjão e obrigada pelo carinho de sempre!